segunda-feira, 20 de março de 2017

Após escândalo, governo promete rigor na vigilância

BRASÍLIA - Dois dias depois de deflagrada a Operação Carne Fraca, na qual a Polícia Federal revelou um esquema de pagamento de propinas a fiscais agropecuários para liberação de carnes impróprias, o governo montou uma ofensiva para tentar conter os efeitos do escândalo sobre o mercado internacional e o consumidor interno. Após uma série de reuniões no Palácio do Planalto, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, classificou como exagerada a narrativa da Polícia Federal, o que, segundo ele, gerou “fantasias”. No entanto, ele anunciou um aperto na fiscalização de 21 frigoríficos suspeitos e prometeu identificar os lotes vendidos por essas unidades. O governo adotou o discurso de que o problema foi inflado e que está, na verdade, restrito a uma parte muito pequena da cadeia produtiva. A preocupação é que um esclarecimento sobre o real tamanho do problema seja disseminado dentro e fora do país a fim de evitar uma crise. O Brasil responde por 7% do mercado mundial de alimentos. E no ano passado, as exportações de frango e carne bovina somaram US$ 10,3 bilhões. — Tenho preocupação. O Brasil é um grande exportador de alimentos. Uma atuação forte de países impedindo o recebimento dessas mercadorias significa uma crise muito grande, significa uma parada dos processos e a gente teria grandes dificuldades para colocar novamente isso nos trilhos — disse Blairo. Lista de lotes suspeitos sai segunda-feira O subsecretário-geral de Assuntos Econômicos do Itamaraty, embaixador Marcos Galvão, disse que até o momento nenhum país solicitou embargo à carne brasileira. China e União Europeia, no entanto, fizeram pedidos formais de informação ao governo. O Ministério da Agricultura prometeu divulgar nesta segunda-feira uma lista de quais países receberam esses produtos e quais foram os lotes supostamente comprometidos. Publicidade Em seu discurso para os embaixadores, Temer fez questão de quantificar a questão, afirmando que, das 4.837 unidades frigoríficas que o país tem, a suspeita recai sobre apenas duas dezenas delas. Ele também informou que o governo decidiu acelerar o processo de auditoria nos estabelecimentos citados na investigação da PF. Das 21 unidades, três foram suspensas. As demais foram colocadas sob regime especial de fiscalização, a ser conduzida por força tarefa específica do Ministério da Agricultura. — O que está sendo investigado não é o sistema de defesa agropecuária brasileira, mas alguns poucos desvios de conduta, de poucos funcionários, em algumas poucas, pouquíssimas empresas — pontuou. A maior parte dos parceiros comerciais importantes para o Brasil estava entre os 33 países representados na reunião com Temer, como China, Egito, Rússia, Arábia Saudita e Japão. O presidente explicou, que desses 21 frigoríficos investigados, apenas seis exportaram carne nos últimos 60 dias. O presidente afirmou ainda que, em 2016, foram expedidas 853 mil remessas de origem animal do Brasil para o exterior e que somente 184 foram consideradas pelos importadores fora da conformidade “muitas vezes por causa de temas não sanitários, como rotulagem e problemas de certificado”. Ele disse que o padrão sanitário brasileiro é de “excelência” e reiterou que, além da vigilância nacional, o produto exportado passa por inspeção ao chegar no país comprador. O Brasil exporta para mais de 150 países. ‘Isso de misturar papelão é idiotice’ O ministro Maggi disse que ninguém “quer passar a mão na cabeça de quem fez coisa errada”: — Podíamos tomar uma medida mais drástica, de interditar toda as plantas, mas o efeito para a cadeia seria muito grande. Por isso estamos fazendo esse regime especial de fiscalização. Publicidade Blairo afirmou que há um problema na narrativa da Polícia Federal, que foi mal interpretada. Segundo ele, é uma “idiotice” acreditar que as empresas, que investiram milhões para se consolidar no mercado externo, tenham misturado papelão à carne. De acordo com o ministro, a forma como a operação foi divulgada ensejou “fantasias”. — Isso de misturar papelão na carne é uma insanidade, uma idiotice. As empresas investiram milhões de dólares, demoram mais de 10 anos para consolidar mercado. E vão misturar papelão na carne? Pelo amor de Deus. A narrativa nos leva a criar fantasia. A partir de uma fala, as redes sociais, a mídia, cada um fala uma coisa. Blairo disse ainda que a utilização de ácido ascórbico e o uso de cabeça de porco são permitidos no regulamento, desde que respeitem determinadas porcentagens. Maggi disse que a PF explicou que não consultou o ministério sobre questões técnicas porque funcionários da pasta estavam sob investigação. Mas o ministro disse que espera que a partir de agora a investigação tome “outro rumo”, aliando a apuração dos fatos com dados técnicos. Fonte O Globo/foto google

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